No calor da realização do tão propalado VII Congresso Ordinário do MPLA, difundido exaustiva e enjoativamente pela média do regime para criar factos políticos e distrair as atenções de muitos cidadãos, o sistema não só se empenha em manobras eleitorais mas também continua a reprimir violentamente os seus críticos e opositores.
Por Pedrowski Teca
Enquanto a oposição se desdobra nos habituais e previsíveis queixumes de fraude eleitoral, especificamente sobre o não credenciamento dos seus fiscais ao registo eleitoral já em curso, o regime angolano continua a quebrar e desgastar silenciosamente vários jovens activistas cívicos apartidários nas províncias de Benguela e Luanda.
As redes sociais estão a ser alimentadas não só por apelos de solidariedade, acompanhado de fotografias horripilantes de ferimentos sofridos por António Francisco Diogo, conhecido por Chinguari, atacado por um cão policial durante a repreensão violenta de uma manifestação anti-regime, a 20 de Agosto, igualmente ouvem-se os gritos de auxílio aos jovens activistas detidos desde o dia 4 de Agosto em Benguela.
Como se não bastassem estas duas situações, os gritos de socorro por parte dos conhecidos jovens revolucionários, ou simplesmente Revús, estendem-se ao Tribunal Supremo, onde foi remetida, a 24 de Agosto, uma Petição Pública com mais de cem assinaturas, pedindo a liberdade de Franscico Gomes Mapanda, conhecido por “Dago Nível Intelecto”, condenado sumariamente pelo juiz Januário Domingos, a 28 de Março, por ter afirmado em tribunal que o julgamento dos 15+2 era uma palhaçada.
Os conhecidos 15+2 activistas cívicos em liberdade condicional, outrora acusados, julgados e condenados por supostos e nunca provados actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, ameaçam marchar até o Palácio Presidencial no dia do aniversário do presidente da República, José Eduardo dos Santos, a 28 de Agosto, a fim de exigirem a devolução dos seus pertences apreendidos a 20 de Junho de 2015.
Jovem Chinguari mordido por cão polícia
A 20 de Agosto, o jovem activista angolano, António Francisco Diogo “Chinguari”, participava de uma manifestação crítica ao regime no Largo da Independência, em Luanda, quando foi atacado por um cão policial, no seguimento de uma repreensão violenta, estando actualmente em situação que inspira sérios cuidados médicos.
Tendo dispersado os manifestantes, os agentes da Polícia Nacional, apercebendo-se da gravidade do acidente, transportaram e abandonaram-no à sua sorte à entrada do hospital Neves Bendinha, conhecido como hospital dos queimados. Já no interior do hospital, não foi atendido por falta de condições.
“Não temos a vacina e não temos como mexer nisso sem a presença do próprio cão,” os médicos responderam ao activista.
Auxiliado por outros activistas, Chinguari foi levado para a clínica Tamani, ao hospital da Vila do Cacuaco, a clínica da Endiama, ao hospital Josina Machel, ao hospital dos Leprosos no Chabá, e ao hospital do Sindicato na Mutamba, mas em todos esses estabelecimentos da saúde não havia vacina anti-rábica para o socorrer.
“Como estamos sem valor, fizemos apelo na rádio, e estamos aqui a fazer pelo menos o básico, aqui em casa, esperar de alguém que tiver um apoio dali para vir nos auxiliar, para ver se eu saio dessa”, disse o jovem que revelou estar simplesmente a lavar a ferida com água e sabão, conforme as recomendações médicas.
“Estou a fazer a medicação aqui em casa, estou sem nenhum apoio, mas não ficamos por aqui. Vamos rezar que tudo dê certo o mais rápido, a ferida cure o mais rápido possível e vamos voltar sempre a fazer as actividades. Não é pela primeira vez que coisas do género acontecem. Estamos acostumados. Vamos tentar dar um jeito nisso para ver se a ferida sare o mais rápido possível. Agradeceria a quem de bom gesto ou de boa fé, que me dê um auxílio,” disse Chinguari, enquanto mostrava o sabão recomendado.
O diagnóstico feito numa clínica privada, onde o jovem foi finalmente atendido, concluiu que era necessário realizar uma pequena cirurgia, o que acabou não acontecendo porque o Chinguari encontra-se impossibilitado de pagar as despesas exigidas pela clínica, precisamente 110 mil Kwanzas.
Passado 6 dias, o jovem não havia apanhado a vacina anti-rábica, estando vulnerável à doença mortífera canina, conhecido por raiva, caso o cão policial que o mordeu estiver infectado.
Revús continuam presos e perseguições continuam em Benguela
A situação dos jovens activistas cívicos na província de Benguela continua crítica, havendo insistentes perseguições dos mesmos pela Polícia Nacional.
Os jovens Valeriano Kussumuna, detido em sua residência enquanto lavava a sua motorizada, e Amaro Justino Quintas, detido no bairro Segundo Tchimbuila, onde jogavam basquetebol, continuam presos desde o dia 4 de Agosto, em sequência duma caça às bruxas em Benguela efectuada pela Polícia Nacional e agentes apaisana, tendo como alvos os jovens do Movimento Revolucionário de Benguela.
No que é visto como perseguição política, a Polícia Nacional deteve 4 activistas ao princípio da noite de quinta-feira, 4 de Agosto, junto da escola primária do 2º Tchimbuila, na zona alta da cidade do município do Lobito.
Somente a 8 de Agosto, na presença do advogado Francisco Viena, o Procurador Africano Gamboa esclareceu que os mesmos estão sendo acusados de roubo qualificado, ofensas corporais e tráfico de drogas.
Os jovens foram em seguida conduzidos para a Comarca do Lobito, onde, até ao fecho desta edição, dois dos quais aguardavam por pagamento de uma caução de 45 mil, a fim de aguardarem o julgamento em liberdade condicional.
“Eu, Avisto Botha, fui detido ilegalmente na minha residência no dia 4 de Agosto sem o mandato de captura, e fui posto em liberdade no dia 19 de Agosto sem a soltura. Na segunda-feira, fui à Comarca do Lobito para receber a minha soltura, segundo os funcionários do Controlo Penal, a minha soltura não está no despacho e me obrigaram a assinar um documento que não me permitiram ler. Eu recusei a assinar o documento. Ontem fui lá para receber a minha soltura, os funcionários estavam nervosos e queriam nos impedir de registar a alimentação, alegando que nós não tínhamos cartão de visita, eu questionei por quê que o nosso cartão de visita está a demorar tanto, a agente penitenciária chamada Elizabeth, me expulsou da Comarca com empurrões. Até ao momento não me deram a soltura”, denunciou um dos activistas.
Num comunicado emitido a 21 de Agosto, a Associação OMUNGA, localizada em Benguela, denunciou a detenção de mais dois activistas, Paulo Vinte Cinco e Francisco Catraio, do Movimento Revolucionário de Benguela, ocorrida por volta das 18 horas do mesmo dia, enquanto estavam reunidos nas obras do futuro IMNE, no bairro da Lixeira, no Lobito.
“O comandante da 4ª esquadra, Alberto Canjego, com cerca de 20 efectivos da polícia, transportados por uma viatura da patrulha, ocorreu ao local exigindo a retirada de todos do local considerando não poderem reunir-se ali. Quando os activistas pretendiam abandonar o local, iniciaram as agressões e as detenções dos dois activistas que foram transportados possivelmente para a unidade da 4ª esquadra”, disse o coordenador da Omunga, José Patrocínio.
Os dois jovens detidos a 21 de Agosto foi posteriormente postos em liberdade, mas perante esta situação, a OMUNGA mostrou-se preocupada com as perseguições, agressões e detenções de activistas em Angola e exigiu “a imediata e incondicional libertação dos mesmos”.
“Tais actos de violência policial e de repressão contra os direitos dos cidadãos não ajuda em nada a construção do país democrático que todos nós almejamos,” disse José Patrocínio.
Os colegas dos companheiros de Valeriano Kussumuna e Amaro Justino Quintas, que ainda encontram-se detidos na Comarca do Lobito, defendem que é estranho que a Polícia Nacional, na província de Benguela, persegue e detém os jovens conhecidos como activistas e que têm organizado várias manifestações públicas e anti-regime, acusando-os de serem delinquentes.
Segundo os mesmos, a perseguição é por motivos políticos e uma das suas razões é a queixa-crime que o grupo efectuou junto às autoridades, acusando o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, pela repreensão violenta em manifestações e outros incidentes relacionados.
Marcha ao Palácio Presidencial
E m Luanda, mais de cem jovens assinaram uma Petição Pública, que foi remetido aos Tribunal Supremo, exigindo a 24 de Agosto, solicitando a libertação do activista Franscico Gomes Mapanda “Dago Nível Intelecto”, condenado sumariamente pelo juiz Januário Domingos, por ter afirmado em tribunal que o julgamento dos 15+2 era uma palhaçada.
Mapanda foi condenado a 8 meses de prisão efectiva no dia 28 de Março deste ano, num acto de ousadia e solidariedade aos 15+2, condenados no mesmo dia.
A petição e campanha de solidariedade ao Mapanda, é protagonizada pelos 15+2, que no dia 28 deste mês pretendem marchar para o Palácio Presidencial.
“Os 17 estão agastados com a demora na devolução dos seus haveres apreendidos aquando da sua detenção ilegal no dia 20 de Junho de 2015. Depois de terem acorrido à instâncias que supostamente seriam as competentes, não tendo estas resolvido o caso, vêm-se obrigados a ir pedir àquele que julgam ser o único que manda no país, escondido por detrás do tão conhecido escudo “Ordens Superiores”, José Eduardo dos Santos, para que oriente a devolução dos seus pertences”, remataram.